julho 30, 2003

The Lurker e as fraudes acadêmicas (ou "Caveat Emptor!")

Poucas coisas tem me tirado tanto do sério como corrigir provas. Convenhamos: a prova é um diálogo entre o professor e o aluno. O primeiro quer medir o que o segundo sabe. O segundo, quer se livrar da avaliação com o que sabe (e mesmo com o que não sabe). Diferente de muitos de meus colegas, eu acredito que “roubar” faz parte das armas disponíveis por parte do aluno. E impedir que isto aconteça é obrigação do professor, que dispõe também de suas armas. A regra do jogo funciona mais ou menos como a Convenção de Genebra: O prisioneiro de guerra tem o direito de tentar escapar e o carcereiro a obrigação de mantê-lo em reclusão.Da mesma maneira, o aluno tem o “direito” de tentar colar e cabe ao professor coibi-lo.

Por exemplo: no outro dia uma das turmas estava muito agitada com a prova de Matemática Financeira no segundo horário. Enquanto eu dava minha aula, alguns alunos se “preparavam” para a prova. Passando ao lado de uma aluna, notei que ela copiava, de um papel minúsculo, informações para sua carteira. Ato contínuo e sem maiores esclarecimentos tomei-lhe o papel da mão.

- Mas... Professor! O senhor não pode fazer isso!
- E o que você espera que eu faça? – respondi – Você sabe que não é correto o que está fazendo.
Aproximei-me então da carteira e, com um movimento rápido da mão, apaguei o que ela havia escrito.

- Ah, assim não dá! Disse ela.
- Você sempre pode reclamar com a coordenação de curso – respondi.

Os alunos que acompanharam a cena recolheram seus “bilhetes”. Os que não tinham bilhetes se limitaram a rir do infortúnio da colega.

Essa coisa de cola talvez seja um dos motivos pelos quais minhas provas são sempre discursivas: você tem que suar um pouco para me convencer de que sabe. Isso pode não ser necessariamente fácil, dado que minhas duas turmas comportam aproximadamente setenta alunos.

Pois estava eu a ler uma das provas quando me deparo com um texto muito parecido com o que havia lido em outra prova... parecido? Melhor idêntico... nahhh... ipsis literis seria mais adequado dizer. Parágrafos inteiros copiados de uma prova para outra. Bem, vamos agora descobrir quem é o autor(a) da brincadeira, quando descubro outra prova com o mesmo texto copiado. Muito bem, paciência tem limite: querer colar, tudo bem. Copiar o texto é burro, mas fazer isso DUAS vezes é apostar na minha incompetência. E aí já é acinte.

Mas então vamos ao trabalho dos alunos colantes, trabalho este cuja finalidade era justamente levantar a nota de quem precisava deste expediente. Pois não é que o trabalho também é colado? Só que desta vez da Internet. Com essa eu perdi a paciência. Ainda não decidi o procedimento, mas que isso não fica assim, ah, não fica!

The Lurker Says: "Cheat me in the price, but not in the goods."
-- Provérbio Britânico

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